Capítulo 36
2493palavras
2023-08-01 09:35
— Fechado! Eu já tomei a minha decisão.
— E o que você decidiu?
— Sinto muito, mas... Você terá de me aturar todos os dias! - Eu disse sorrindo.

— Vou entender isso como um Sim! Estou feliz por compartilhar meu apartamento com você.
— Sério? - Eu disse arregalando os olhos.
— Vai encher o ambiente de alegria.
— Alegria? Eu sou brava. - Eu disse confusa.
— Sim e super desastrada, vou rir muito dos seus tombos, tropeços e gargalhadas.
— Meu Deus! Que atrevido, mas eu não tenho como negar que sou desastrada... Isso é um fato.

— Quando vai fazer a mudança? - Quis saber Dante, parecia que estava mais ansioso que eu.
— Bom, primeiramente vou atrás de caixas para poder embalar as minhas coisas e poder trazer um um caminhão de mudanças. Não tenho muita coisa, mas vou perder uns dois dias nisso. Vou tentar deixar o local como peguei, fazer uma limpeza e então ir na imobiliária assinar a documentação de entrega após a vistoria do imóvel.
— Quer ajuda para embalar? Sei que não é muito, mas posso passar lá após o horário para te ajudar.
— Você é um amorzinho quando quer né?

— Só com você. - Ele me mostrou a língua... "É esse aprendeu bem comigo." Eu pensei.
— Eu aceito, só vou comprar umas caixas e fita adesiva amanhã.
— Combinado! Amanhã após o horário de trabalho, eu passo no seu apartamento.
— Beleza, vou tentar deixar tudo meio que encaminhado.
— Eu posso me atrasar por causa de reuniões, mas te aviso por mensagem.
— Tudo bem, sei que a sua rotina é corrida.
— Quer um café? Hoje serei eu a preparar para você.
— Aceito! Quero ver se o seu café é tão bom quanto o meu.
— Bom, se você não gostar, não vejo problema em tomar o seu café todos os dias.
— Com toda certeza o seu café será muitooo melhor que o meu. - Eu disse rindo seguindo-o até a cozinha.
Dante colocou a água ferver, preparou o café solúvel dentro do bule (2 colheres de sopa cheias) juntamente com o açúcar (3 colheres de sopa). Sim, ele tomava café com açúcar o que era bem interessante porque eu tentei tomar o café sem e não me adaptei. Após a água ferver, ele derramou a água dentro do bule, mexeu bem e colocou na garrafa. O ajudei a servir a mesa para tomarmos café, ele me fez torradas com ricota e meu estômago já estava doendo de tanta fome. Servi o café com leite e duas torradas. Experimentei o café e realmente estava muito bom!
— Gostou do café? - Perguntou Dante sorrindo.
— Sim, confesso que o seu café é melhor que o meu.
— Ahhh, você só está falando isso para que eu faça café todos os dias! Não vale. - Disse ele balançando a mão em sinal de não concordar.
Eu caí na risada... Nunca imaginei que veria esse lado dele, sua companhia está realmente agradável e eu não me sinto mais nervosa como ficava antes. É algo mais espontâneo, me sinto confortável e pela primeira vez, estou vendo a verdadeira face de Dante, o que me deixava surpresa.
— Eu queria poder ler a sua mente neste exato momento... - Disse ele percebendo que eu estava longe.
— Eu não preciso esconder o que penso, basta você me perguntar o que deseja saber. - Eu disse olhando-o fixamente.
— Quando você faz isso, parece que vê o que estou pensando e sentido.
— Eu sinto a mesma coisa hehe.
— Beleza, o que te deixou longe da terra agora há pouco?
— Está curioso assim? - Eu perguntei jogando com ele.
— Óbvio, ainda mais quando se trata de mim...
— Como você sabe que eu estava pensando em você? Poderia ser qualquer outra coisa. - Me fiz de desentendida.
— Pela forma como você estava me olhando, não sei ao certo do que se trata, mas sei que era sobre mim.
— Bom, devo admitir que você está certo. - Eu me dei por vencida.
— Aha! Te falei, você é bem expressiva.
— Então, eu estava refletindo que agora você parece mais a vontade comigo, que está agradável e que estou te conhecendo somente agora.
— Hoje eu posso ser eu mesmo com você, o que na época era impossível por alguns fatores, lutei muito internamente e ficava tenso na sua presença.
— Eu nunca quis te causar tamanho desconforto. - Eu disse desviando o olhar.
— Mas você não era culpada, eu tentei resistir ao seu charme ao máximo, lutava contra tudo (coração e mente) para não me apegar, mas era uma batalha em vão porque nada adiantou. Eu só fiquei frustrado.
— Meu charme? Oi? - Eu falei com cara de incrédula.
— Você sabe melhor que ninguém que eu estava louco por você.
— As vezes parecia, mas depois você aprontava algo que ia totalmente contra as ações anteriores. Uma hora parecia que gostava ou que ao menos sentia atração, mas em outras, era totalmente frio.
— Sim e realmente me arrependo disso.
— Dante, não tem o que fazer em relação ao passado... É bom sim conversar sobre, tirar algumas dúvidas, tirar histórias a limpo, porém não temos como mudar. Não se culpe, mas também não cometa os mesmos erros do passado e isso já será suficiente para termos uma boa convivência.
— Concordo com você e longe de mim errar novamente, vou cometer novos erros porque sou moderno e imaturo em alguns aspetos, até porque eu sou falho. - Disse ele sorrindo brincalhão.
— Eu sei, ninguém é perfeito... Mas, se fizer o que fez no passado comigo novamente, eu vou literalmente te socar! - Eu disse fazendo carinha de amorosa (o contrário do que eu estava falando, é eu sei).
— Não sabia que você tinha esse lado malvado... - Disse ele sorrindo levemente, criando uma covinha no canto direito da bochecha.
"Como era sedutor... Meu Deus, isso realmente não vai ser bom para o meu coração... Não sei mais quanto tempo eu vou aguentar." - Eu pensei.
— Eu tenho vários lados que você não conhece. - Eu disse com nariz empinado, me sentindo super misteriosa.
— O bom de ter você aqui é que eu vou conhecer todos!
Eu sorri como se estivesse com gases, para disfarçar as batidas desenfreadas do meu coração.
"Kyra, respira... Você tem que estar no comando da situação e jamais deixá-lo tomar. Já sabemos que o cenário é bem perigoso, tem certeza de que vai morar com ele?" - Minha mente me alertava, mas nessa altura do campeonato, eu não queria abrir mão disso.
"Quero mesmo conhecê-lo, ver se ele realmente sente algo por mim e que se dane se eu me machucar novamente!" - Eu respondi a minha mente internamente, mandando a batalha interna para o espaço.
— Quanto mais eu te conheço, mais gosto do que vejo. - Disse ele rindo do meu jeito.
— Você está jogando com tudo né? Não era tão direto assim antes.
— O que eu tenho a perder? - Disse ele me olhando fixamente o que fez eu me arrepiar toda.
— Não sei, mas talvez não seja o que você esteja esperando.
Dante levantou, veio até onde eu estava sentada, se abaixou próximo do meu ouvido, colocou as mãos no encosto da cadeira e falou de modo provocativo:
— Sabe Kyra, hoje não espero mais nada porque o "Não" seu eu já tenho, mas se algum dia eu tiver um "Sim" aí sim será uma surpresa. Ahhh e pode ficar tranquila que não vou te forçar a nada. - Disse ele recuando e indo em direção do quarto.
Eu levantei da cadeira em que estava sentada, fui em direção a pia da cozinha pegar um copo de água porque minha boca e garganta ficaram secas... Sério, isso foi do nada, nem sei por qual motivo isso aconteceu. Ta, a quem eu estou tentando enganar? Não vou sobreviver aqui com a minha sanidade intacta.
— Kyra, vamos? - Disse Dante do nada, voltando a cozinha.
Eu me assustei, soltei um gritinho virando o copo de água em cima de mim e quase matei o Dante do coração porque ele também se assustou, mas foi com o meu "gritinho".
— Você está bem? - Perguntou ele correndo para pegar uma toalha e me entregar para que eu pudesse me secar.
— Sim... Só que eu sou desastrada... - Eu falei desanimada olhando para a minha roupa toda molhada.
— Nossa... Você estava tão dispersa assim? - Disse ele rindo.
— Sim... Bom, ainda bem que temos o coração forte né? - Eu disse suspirando.
— Sim, só espera que eu vou te arrumar roupas secas para você não ficar resfriada.
Dante retornou ao quarto para pegar roupas secas para mim. Isso me fez lembrar de quando ele passou no meu apartamento na época em que ficara doente e que ele utilizara as minhas roupas.
Eu sorri ao lembrar e agora era o oposto, eu quem iria utilizar as roupas dele.
— Espera, ele trocara de roupa? Eu vi bem? - Eu fiquei confusa.
Quando Dante voltara a cozinha eu pude ver melhor. Realmente eu estava certa porque ele estava com uma blusa de lã de gola alta, calça jean e jaqueta que imitava couro preta.
— Você trocou de roupa? - Eu disse franzindo o cenho.
— Sim, após eu te deixar no seu apartamento, eu tenho uma reunião com Louise.
— Ahhh e precisa se arrumar tanto assim?
— Isso é um elogio? - Ele me perguntou levantando uma das sobrancelhas.
— Você está muito b*****. - Eu falei baixinho o bonito porque estava com vergonha.
— Desculpa Kyra, mas eu não entendi o que você falou após o "muito". - Disse ele vindo em minha direção.
O fato é: eu ainda estava em frente a pia da cozinha e não tinha para onde recuar e ele continuou se aproximando até ficar cara a cara e me prender entre ele e a pia.
— Por que você chegou tão perto? - Eu perguntei tentando me esquivar dele, mas em vão porque ele colocou as mãos na pia (eu fiquei entre elas), dificultando a minha fuga.
— Eu quero ouvir o que você disse bem de perto para não perder nenhum detalhe.
Eu respirei fundo, engoli em seco, tinha muita atração no ar justamente pela proximidade e eu não conseguia raciocinar direito.
Dante aproveitou esse meu deslize, segurou me queixo e aproximou a boca do meu ouvido e disse:
— Me diga docinho, estou super curioso. - Disse ele com voz rouca.
— Você... está, digo está muito bonito. - Eu caí no joguinho dele e acabei cedendo.
— Aha! Você está com ciúmes? - Disse ele se afastando.
Eu pisquei várias vezes até entender o que ele estava dizendo porque eu demorei para retornar a terra.
— Ciú... ciúmes... O quê?! Eu com ciúmes de você? Você só pode estar doido! - Eu falei colocando meus pensamentos no lugar.
— Ah, então tranquilo se eu me envolver com Louise? - Disse Dante segurando o riso.
Só o fato de imaginar ele jantando com outra mulher já me deixava com raiva.
— Não me importa, se é o que quer então vá! - Eu falei entre os dentes querendo bater nele.
— Você nunca irá admitir que se importa né? Porém, amei ver esse seu lado ciumento. - Disse ele rindo, pegando a chave para irmos.
— Como você é convencido! Nem precisa me levar de volta, posso pegar um táxi e não te atrapal...
Não consegui terminar de falar porque Dante se aproximou, me puxou e me beijou. Fiquei surpresa, mas não consegui recuar... Parecia que eu não era beijada há séculos e vou contar um segredo, a você leitor, que está acompanhando essa loucura que é a minha vida: eu fui as nuvens e nunca ninguém me beijou como ele com intensidade, desejo e algo a mais que ainda não consegui descrever, mas que até o final desta turbulenta "história da Kyra", eu com certeza descobrirei e contarei a vocês!
Ele aprofundou o beijo me deixando sem ar (de uma forma boa). Eu retribuí o beijo esvaziando a minha mente e me entreguei aquele sentimento todo que estava explodindo no meu coração.
Dante se afastou um pouco para me olhar fixamente. Eu abri os meus olhos e nossos olhares se encontraram.
— Kyra, não quero me envolver com outra mulher... Só tenho olhos para você. - Disse ele tocando o meu rosto.
— Sei, mas se arrumou todo para ir e ainda por cima, está todo perfumado. - Eu disse cruzando meus braços como uma criança birrenta fazendo beicinho.
— Eu não sei se devia ficar feliz com esse pingo de esperança que você me deu, mas estou adorando ver as suas reações.
— Dante, pare de imaginar coisas. Vamos! - Eu disse indo em direção a porta.
— Tudo bem.
Saímos do apartamento e o caminho todo na volta para o meu apartamento ficamos praticamente em silêncio. Dante parou em frente ao meu apartamento, eu não queria descer, mas precisava.
— Muito obrigada por hoje. Tenha uma excelente reunião. - Eu disse fazendo menção de sair do carro, mas senti uma mão no meu braço me segurando.
Eu olhei para ele sem entender por qual motivo ele estava agindo daquela forma.
— Kyra, a reunião durará mais ou menos uns 30 minutos... Posso jantar com você?
— Oi? Você não vai jantar com a Louise? - Eu falei irritada.
— Como eu te disse, tenho uma reunião, mas não foi combinado jantar.
— Tanto faz... Isso é tudo? Já posso sair? - Me irritei ainda mais porque percebi que Dante estava segurando o riso.
— Terminando lá, eu venho para cá, me espere docinho! - Disse ele largando meu braço.
— E se eu não quiser? - Perguntei com uma sobrancelha levantada.
— Virei igual. Se mudar os planos, te mando mensagem. Até mais tarde docinho.
— Nem vou te responder. - Eu disse saindo do carro e escutei a gargalhada dele enquanto ele acelerava e partia.
Subi os andares do meu apartamento na base da raiva... Como ele poderia balançar o meu mundo e o colocar de cabeça para baixo? Que irritante!
Já no meu apartamento, tomei um banho, coloquei meu pijama e no momento que eu ia ligar a televisão meu celular toca.
Adivinha quem é? Ahh duvido que você vai acertar, caro leitor!
BINGO...
Sim, era o Dante... Essa estava difícil até para eu responder (Kyra).
— O que você quer? - Não disse nem boa noite.
— Olá docinho, também estou com saudade!
— Vai para o inferno Dante!
— Dentro de 20 minutos, passarei aí para te buscar... Vamos jantar fora!
— O que?!
— Louise quer te conhecer.